11/07/2008

Roteiro de Quadrinhos - 1

INTRODUÇÃO

As Histórias em Quadrinhos brasileiros passaram por grandes transformações no decorrer dos últimos anos. Transformações nem um pouco justas.

Outrora sucessos, hoje elas se encontram praticamente abandonadas. Isso se deve principalmente por interesses econômicos das editoras, que preferem publicar materiais estrangeiros, pois estes possuem custos de produções mais baratos que os quadrinhos nacionais.


A competição do material estrangeiro é desigual: a temática desses quadrinhos são mais modernas, mais ágeis, dinâmicas e quase sempre são atreladas a alguma mídia de sucesso (TV, cinema, vídeo-games).

Diante dessa situação desonesta, nosso artista ficou restrito aos fanzines, às edições caseiras de baixa tiragem e alto custo, sites pessoais, Devianart, Fotologs, às editoras "nanicas", ou, tristemente, ainda que raramente, autores “medalhões” bancam a si mesmos.


O artista novato, desconhecido ou mesmo que tenha publicado com louvor no passado, foi expulso das bancas e se restringiu à guetos da Internet, lhe sendo praticamente impossível qualquer tentativa de se produzir gibis para o grande público de banca.

A alternativa foi tentar publicar nos EUA através de “estúdio” ou “agentes internacionais”, salvo raras exceções, são possuidores má fama com calotes, atrasos e enganações.


Assim, o autor nacional defasou-se e, incapaz de acompanhar os novos tempos, está segregado tanto social quanto culturalmente, se limitando a “fazer o que gosta”... Quando deveria fazer o que o leitor quer.

Por essas e por outras, o mercado nacional das Histórias em Quadrinhos brasileiro, que alfabetizou, educou, inspirou e inspira muita gente, hoje se encontra entregue às publicações estrangeiras e a um fiapinho de minúsculas publicações nacionais.

Nessa situação, com a ausência de trabalho na área, diante da desistência de muitos e do mutismo de outros, causa estranheza alguém fazer um site que conta com uma parte sobre Roteiro de Quadrinhos.


É que por mais que rotulem preconceituosamente as HQs como sendo um mero produto para crianças, por mais que segreguem o artista e mesmo diante da ausência de mercado de trabalho que vise absorver esta mão-de-obra...

Há milhares de pessoas que dedicam parte de suas vidas a desenhar Histórias em Quadrinhos; exatamente por gostar dessa mídia. São talentos raros, preciosos e que continuam na batalha, sem amparo de empresa alguma, sem escola séria, sem mesmo um reconhecimento profissional.

Só que não basta ter garra e força. É preciso uma base informativa que leve a uma compreensão melhor de como adeqüar a arte dos quadrinhos a um nível técnico-comercial, que torne a HQ mais palatável ao gosto do leitor. Ao mesmo tempo que certas percepções do artista possam ser abertas.

E, quem sabe, com este pequeno blog, possam surgir novas Histórias em Quadrinhos que venham a ser aproveitadas pelas editoras.

Assim, este blog pretende ser o “básico do básico”, mas não se limita apenas a isso: trazemos algo mais que faça você possa não apenas se inspirar mas, principalmente, que possa criar seu personagem, explorando as potencialidades de sua imaginação. E lhe apresentamos sua majestade o leitor: como agradá-lo, como chegar até ele e como agradar até mesmo o editor.

Por mais óbvio que possa parecer, uma HQ só ganha vida, só alegra o leitor e fica em sua memória leitor se possuir uma história.


Você pode fazer um desenho cheio de estilo, detalhes, poderoso na pintura eletrônica...

Mas sem história por detrás do desenho, ele não é nada. No máximo é uma ilustração fria.

O correto é juntar o desenho ao roteiro, colocando o desenho a serviço do roteiro. E não o contrário.

O que não falta por aí é mangá (tanto nacional quanto estrangeiro) com roteiro burro ou que nivela a história a um nível tão baixo, mas tão baixo, que por mais que você goste do desenho, vai acabar ficando com raiva da história... e, por conseguinte, deixará de gostar do desenho. Não dá pra enganar todo mundo o tempo todo, né? Uma hora o leitor abre o olho e aí o barraco cai.

É só pensar: quantas vezes você começou a ler um mangá, ou mesmo um gibi americano, ou brasileiro... A história começou legal, o desenho era bom, e de repente a história ficou tão burra que só um fanático a acompanharia. É triste isso, né?


Esperamos que com o que eu vamos lhe dizer a seguir, você comece a desenvolver um senso de observação, oportunismo, criatividade e algo que está cada dia mais raro em termo de quadrinhos: ousadia.

03/07/2008

ESSENCIAIS 1 - O PAPEL

A criatividade muitas vezes não tem ocasião para surgir.
Já vimos trabalhos criativos feitos em papel comum, naqueles de padaria. Ou em papel de caderno, blocos de anotações, etc.
Porém, é preciso ter em mente o que você vai fazer depois com o desenho. Pois um fanzine ou um site pessoal não fica bem quando sua arte está desenhada em folha de caderno ou papel de baixa qualidade. Ainda mais quando você vai digitalizar o desenho.

Por isso, deve-se sempre pensar em materiais mais coerentes com o que se quer fazer.

Ter idéias que podem virar ilustrações, quadrinhos ou histórias é legal. Mas quando chega a parte de se colocar tudo no papel... As dúvidas começam a aparecer.
Mas estamos aqui para lhe sana-las.

A pergunta que todos fazem é: que papel usar? Será que usarei o tipo correto? É o que lhe responderemos agora.

Nesse estágio inicial, procure sempre usar papel sulfite branco. Pode ser aquele tipo escolar ou mesmo o tipo para xerox. Tanto faz.

A seguir segue uma lista de tipos de papel mais comuns e apropriados para determinados materiais de desenho, com links diretos para cotação de preço:

Sulfite branco de 75 gramas (mais usado para trabalhos escolares ou xerox) - esse papel é ideal para rascunho (sempre usando lápis comum), rabiscos e estudos diversos. Chamam-no de 75 gramas por causa de sua espessura.

Sulfite branco de 90 gramas (também usado em impressoras laser) - também para rascunho ou e estudos diversos (ideal para lápis mais duro ou para pessoas com empunhadura mais forte).


Opaline ou Westerprint (90 a 120 gramas) - este papel é o preferencial no uso de canetas com base líquida e de secagem rápida (as famosas hidrográficas). Geralmente são usados para arte-final ou pintura mais simples. Suporta bem lápis de cor e pastel (crayon).

Canson – este papel é indicado para pintura em geral. Suporta bem tintas com base de água, com secagem rápida a média. Também são indicados para aquarelas, ecoline, tinta acrílica, etc. O canson também é bom para lápis de cor. Porém, para canetas hidrográfica e nanquim, ele deixa a desejar pois costuma borrar o desenho um pouco. E isso é complicado para quem procura um trabalho com acabamento mais preciso.

Um dos papéis mais caros para pintura é o Fabriano ou Schoeller que pode ser usado para quase todo tipo de técnica de pintura. Mas o fator preço o torna difícil de ser usado...

Papel manteiga – usado em arquitetura ou rascunhos, ele é um papel semi-translúcido de superfície áspera (não confunda com o papel manteiga para culinária pois este é todo liso e não serve para desenho). Se você costuma rabiscar demais para fazer sua ilustração, esse papel é uma alternativa, principalmente quando não há como apagar o rascunho e reforçar as linhas. Basicamente você sobrepõem o papel manteiga sobre o rascunho. Por ser semi-transparente, é possível enxergar os traços do desenho por baixo. Daí passa-se o lápis sobre as linhas de destaque. O resultado é um desenho com aparência mais limpa. Portanto, o papel manteiga aceita bem uma arte-final com caneta e é excelente para escaneamento.

Papel vegetal – este é um papel semi-translúcido que serve para a mesma serventia que o papel manteiga: arte-final sobre o rascunho. O papel vegetal costuma ser relativamente caro mas é fundamental para aqueles que não possuem mesa de luz para fazer a arte-final (falaremos desse recurso posteriormente).
Este papel é um pouco inconveniente para se trabalhar pois se houver contato com superfícies úmidas, ele enruga e fica quase impossível de se trabalhar.

Concluindo: se você quer começar a se profissionalizar, ou se tem um mínimo de carinho para com seu trabalho, acostume-se a usar esses tipos de papéis.

É sempre bom lembrar: não utilize em seus desenhos papel jornal, papel de embrulho (daqueles de loja), papel de cigarro, guardanapo e nem papel de caderno escolar.